Faltam exatamente 15 dias para
a minha partida. Eu – coração partido e melancolia. À parte isso, coração
transbordante da alegria por poder fazer parte de outro mundo – antigo sonho a se
concretizar.
O novo velho mundo em que
adentrarei pede despedidas do mundo atual. De você me despedi há pouco mais de
dois meses. Era maio. Não sei ao certo o motivo de ter ocorrido com tanta
antecedência essa despedida. Talvez por ter sido o mês de mudanças importantes.
Defendi minha monografia, fiz aniversário, passei em dois intercâmbios, decidi
por um deles. Talvez tenha sido o mês propício para ganhar liberdade e deixar de
ser dependente das nossas sessões.
Foi também o mês em que
completei um ano de análise. Sei que números não justificam. Meses, dias, anos.
São apenas cronologia humana. O real motivo (se é que há um) diz respeito a
coisas que nem eu mesma sei. Ou não sei que sei.
Sabe, não tem sido fácil estar
longe da gente, das nossas sessões, do divã confortável, dos nossos risos, das
nossas falas. Nossa, que saudade da sua voz de calmaria e desse seu jeito que
transpassa serenidade. Sempre me lembro do nosso diálogo em uma das sessões, em
que eu disse: “por que você fala tão bonito?”, ao que você respondeu: “é porque
você me inspira”.
Quando fui embora da nossa
última sessão, no final de maio, eu me senti pronta para dar meus passos sem seu
acompanhamento. Foi fácil no começo. Nos primeiros dias, nas primeiras semanas,
havia em mim segurança, alegria e autoconfiança.
Não durou muito. Logo vieram
dias de muita tristeza e muita vontade do conforto daquela clínica levemente
escura que me trazia tanta clareza. Mas eu não podia. Eu simplesmente não podia
voltar. Eu precisava aprender por mim mesma.
Prossegui meus passos então. Entre
bons e maus momentos – esses paradoxos mesmo que tanto percebemos na vida e nas
questões –, eu prossegui.
Não sei se fiz a escolha certa.
Nem se fiz a errada. Apenas fiz a escolha. Ou a escolha se fez em mim. Não sei
bem. O fato é que fui embora. Deixando com certeza um pouco de mim na clínica e
em você. E deixando talvez um questionamento sobre eu ter ido sem explicações.
Hoje não escrevo para te dar
essas explicações. Porque nem eu as tenho. Hoje venho para te dar gratidão.
Pelo um ano de convivência e aprendizado. Não sei se foi muito ou pouco tempo
de análise, mas sem que foi fundamental. A Amanda me dizia sempre que a análise
foi um divisor de águas na vida dela. Hoje eu a compreendo. Foi um divisor de
águas na minha vida também. Então obrigada, Fabiano. Por ser esse divisor de que
eu tanto precisava. Por ter caminhado ao meu lado. Por ter sido apoio, por ter
me desestruturado e me reestruturado. Por ter acompanhado riso e choro. Enfim,
por ter sido exatamente quem você foi durante esse um ano.
Peço desculpas por ter seguido
meu caminho sem um abraço de despedida, sem uma explicação e sem um expresso
“muito obrigada”. E digo que eu voltarei. Daqui seis meses voltarei para te abraçar
com saudade e te contar como é andar sem você do meu lado – mas com o que você
me ensinou dentro de mim.
08.08.2014
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