Dizem por aí que eu sou
geminiana. Dizem por aí também que como boa geminiana eu sou bipolar. Mudanças
repentinas de humor. Dicotomias. Sensações que vão da alegria desmedida à
tristeza intensa em um espaço-tempo de segundos tão curto que as sensações parecem
coexistir.
Quer dizer, não dizem por aí.
Digo eu. Por aqui. Mais que dizer – eu sinto. E, nesse intercâmbio, aquilo que
pareceu a minha mais profunda decepção de repente se torna o mais inesperado
bem estar. Ou melhor: são os dois juntos, se transpondo um ao outro, quase que
disputando um espaço cá dentro ou uma prevalência ainda que mínima.
Tem acontecido muito por aqui.
Faltando dez semanas para o meu retorno ao Brasil, faço hoje a última prova do
ano. E antes da prova bato um bom papo com uma colega italiana e um colega
intercambista francês. E aí vem aquela sensação de alívio por ter conseguido
ler cinco livros e feito cinco provas em pouco mais de um mês, tudo em
italiano. Mas vem junto aquela dorzinha por não ter mais as aulas (muitas
chatas, de fato, mas muitas – as de psicologia de desenvolvimento – bem
melhores que todas as que já assisti em cinco anos de Direito) que tanto me
fizeram aprender o italiano, mas também sobre a vida, a família, a vida
conjugal, a educação dos filhos, o papel da escola, a homossexualidade. Mas esqueço
um pouco os conhecimentos e me vem aquela alegria ao me dar conta de que não
preciso mais acordar cedo no frio e pegar aquele tram mais lotado do que o 020
no horário de pico. E junto vem aquele sentimento de que, sem as aulas para me
obrigarem a acordar cedo, eu acordarei tarde e desperdiçarei meu tempo na
Europa (pagando em euro, ressalte-se).
Também brigam por espaço dentro
de mim a paixão Itália e o amor Brasil. Ontem fui à uma lanchonete chamada
Energia do Brasil, onde feliz comi coxinha, empada e tomei suco de acerola,
tudo em meio a bons e divertidos papos com amigos brasileiros. Hoje fui também
ao Esquilino – mercado dos imigrantes onde vende coisas japonesas, indianas,
brasileiras e de mil lugares do mundo – para comprar polvilho, leite ninho,
leite condensado, leite de coco e farofa. Uma delícia a nossa comida brasileira.
E quem nega? Mas saio do mercado e passo no café em frente à faculdade para me
despedir do cappuccino com cornetto de chocolate que me entra de uma maneira
deliciosa, quente e aconchegante. Ninguém nega também a delícia da pizza
italiana e do cornetto e do cappuccino e do macarrão e da piadina.
X
Anseio pela chegada ao Brasil em
23 de fevereiro. Mas anseio também por viver mais a Roma e conhecer mais
lugares da Itália que nunca pensei em visitar mas que inesperadamente me encantam
quando os visito.
Não é porque sou geminiana, né?
Bipolaridades e dicotomias se fazem presente na humanidade. Não é preciso vir
na Europa para senti-las. Nem é preciso ser geminiana. Basta ser.
A parte mais importante: "pagando em euro" !! Kkkkk brincadeira. Também sinto uma sensação de estar partida ao meio. Metade de mim quer voltar logo para a cidade onde está quase toda minha vida, e metade de mim quer continuar descobrindo a nova cidade que se tornou parte da minha vida. Metade de mim quer fazer todas as atividades possiveis, e metade de mim só quer descansar pq sabe que muita coisa está por vir quando voltarmos. As duas metades no entanto, sempre concordam em uma coisa, já tenho duas cidades pra chamar de lar!
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