Há um mês pisei em solo brasileiro,
depois de um semestre no mundo europeu. Muita gente me pergunta se já estou com
saudades de lá. Eu digo que não, que ainda não matei por completo a saudade
daqui.
Pareceram uma eternidade esses 180 dias
no exterior. Mas agora já me readaptei à vida, e sinto que a viagem passou
rápido e que não vivi tudo que eu queria lá. Parece que o tempo do intercâmbio
foi um tempo suspenso. Suspendeu minha vida no Brasil, porque tudo ficou me
aguardando exatamente como deixei. As pessoas, os lugares, os lazeres, os
estresses, o estudo, o trabalho. Retomei tudo exatamente de onde parei.
Kiara Terra foi quem falou do “tempo
suspenso das trocas preciosas”. Sabe aquele momento de êxtase em que você
experimenta uma sensação indizível? Pode ser uma conversa, pode ser um riso,
pode ser uma troca de olhares ou um abraço intenso. É um momento em que o mundo
ao redor para, deixa de existir – e você só vê aquele momento, como se ele
fosse o mundo inteiro. O seu mundo.
A Europa foi assim. Não foram seis meses
de sensações indizíveis, é claro. Mas foram seis meses suspensos de trocas
preciosas. Intercâmbios com a cidade, com a cultura, com os estudantes, com as
aulas, com os professores. Infinitude de preciosidades – é o que esse
intercâmbio representou para mim. A preciosa saudade, os preciosos lugares
históricos, as preciosas viagens, as preciosas amizades, a preciosa língua
italiana. Também o precioso aprendizado, o precioso sofrimento, os preciosos
choros de tristeza ou de saudade ou de desespero. O precioso crescer.
Porque a vida se faz dentro da
possibilidade preciosa de crescimento. De ser melhor do que se foi ontem. Num
processo contínuo e infindável.
Sabe por que se classificam determinadas
pedras como preciosas? Porque elas sofreram um processo químico, de milhares de
anos, que envolve elementos certos, temperatura certa, pressão certa.
É disso que se trata uma vida preciosa. É
a vida que se permite adentrar nesse processo complexo de se melhorar e de
acreditar na melhora da humanidade.
Acho que a Europa me fez melhor. Não no
sentido de ter me tornado melhor do que os outros. Mas no sentido de me tornar
um pouco mais bem preparada para o mundo adulto. Um pouco mais bem preparada
para encarar o mundo lixo e para lidar com pedras nada preciosas que com
certeza encontrarei por aí.
A Itália não é pedra bela e perfeita,
como eu já disse em outro texto. Mas é uma pedra que já passou por um processo
de milhares de anos – restando apenas poli-la para encontrar nela um brilho e
um quê de preciosidade.
Assim como podemos encontrar um quê de
preciosidade na humanidade. Se continuarmos tentando.
Que a tentativa não seja falha. Que a
humanidade não se canse. Que não seja tarde demais.
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